Região

MPF quer suspender obra da Vale de US$ 830 mi

O Ministério Público Federal (MPF) acionou a Justiça para suspender a licença da obra de duplicação da ponte rodoferroviária da Vale sobre o Rio Tocantins, em Marabá, sudeste do Pará.

Segundo a ação, o projeto causa impactos socioambientais graves, como queda de até 40% na renda de pescadores, contaminação da água e perda de pontos tradicionais de pesca, além de não ter realizado a consulta prévia às comunidades ribeirinhas, prevista em convenção internacional.

A ação é assinada pela procuradora da República Gabriela Puggi Aguiar e também inclui o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), acusado de omissão na exigência da Consulta Prévia, Livre e Informada (CPLI) e na fiscalização dos impactos da obra.

A Vale disse que “não foi intimada da existência da ação”, e disse que “cumpre a legislação vigente e que mantém compromissos com a execução das condicionantes ambientais e com o diálogo permanente com todas as partes envolvidas nas implantações de projetos e operações”.

Principais impactos relatados

De acordo com o MPF, as comunidades de pescadores artesanais e ribeirinhos da região, especialmente do núcleo urbano São Félix, em Marabá, sofrem uma série de prejuízos desde o início da duplicação da ponte:

  • redução de cerca de 40% no pescado e na renda das famílias;
  • dificuldade de navegação e aumento dos custos de combustível;
  • contaminação da água do Rio Tocantins, usada para consumo, banho e lavagem de roupas;
  • perda definitiva de pesqueiros tradicionais;
  • exclusão dos programas de mitigação e monitoramento do licenciamento.

O MPF afirma ainda que a Vale tem se negado a compartilhar dados de monitoramento de pesca com os próprios pescadores e com pesquisadores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), além de utilizar metodologia considerada falha no estudo da ictiofauna da região.

O que pede o MPF

Na ação, o órgão solicita decisão urgente que determine a suspensão imediata da licença de instalação até que a consulta prévia seja feita. Também pede que a Vale seja obrigada a:

  • pagar uma verba mensal de, no mínimo, um salário mínimo a cada pescador atingido;
  • fornecer combustível, gelo, embarcações e materiais de pesca para adaptação da atividade;
  • corrigir a avaliação de impactos ambientais e garantir fiscalização da qualidade da água.

Ao final do processo, o MPF pede que a licença seja declarada nula e que a Vale e o Ibama sejam condenados solidariamente a pagar R$ 100 milhões por danos morais coletivos.